Brian Townes fala sobre seu personagem em "Rio Connection" e destaque no cinema nacional com “Bacurau” e “Marighella”
Ator, que mora há 13 anos no Brasil, completou 50 anos e pode ser visto em mais duas produções do streaming: “Traição Entre Amigas” (Netflix) e “B.A. O Futuro Está Morto” (HBO Max)
O ator norte americano Brian Townes é um dos destaques da série “Rio Connection”, que está no ar pelo Globoplay. O artista, que mora no Brasil há mais de 13 anos, vive o personagem Peter Walsh.
- Ele é um norte americano meio caubói, agente federal na embaixada dos Estados Unidos no Rio de Janeiro que investiga e ajuda a prender o círculo de traficantes que manda heroína aos EUA via Brasil.
Walsh é um policial experiente, que sabe bem como funcionam (ou não) as relações entre o país dele, o governo militar brasileiro e a polícia do Rio de Janeiro. Adorei fazer este personagem.
A sensação de ser um gringo tentando transitar pelo Brasil, e especialmente pelo Rio de Janeiro (que é outra história), é uma que conheço bem. No caso de Walsh encontrei muito humor na sua situação, diferente dos personagens que eu tipicamente faço – diz Townes.
Para dar vida a Walsh, Brian foi estudar mais sobre a realidade política dos Estados Unidos na época e como ela iria influenciar as circunstâncias e a vida do seu personagem.
- A geração dele foi aquela dos meus pais, então foi muito interessante relembrar as atitudes deles em relação ao país e sua política na época.
Lembrei-me do fim do conflito no Vietnã, a ideia da ameaça da USSR (União Soviética) e a Guerra Fria. Esses eventos foram parte da minha infância e adolescência, mas busquei jornais e programas de televisão da época para entender melhor tudo sob a perspectiva de um adulto.
Queria construir em Walsh uma pessoa que acreditava no estabelecimento, mas que fosse pés-no-chão, de “senso comum”, baseado no que seria o senso comum naquele período – explica.
Ele fala ainda sobre como trouxe esse personagem para o Brasil e o estudo sobre o momento da ditadura brasileira.
- No caso da política brasileira da época, fui estudar mais a fundo para entender a posição de uma pessoa que acreditava num governo com posicionamento anticomunista, mas que ainda não alcançou os extremos da ditadura militar brasileira. Peter Walsh seria uma pessoa que pessoalmente poderia ser meio perturbado, e até ter medo da brutalidade do governo brasileiro na época, mas precisava manter relacionamentos amigáveis com as pessoas envolvidas para conseguir aquilo que o país dele desejava e que ele acreditava ser justo – revela.
Brian revela mais sobre os bastidores e com quem trabalhou durante “Rio Connection”.
- Gostaria de ter trabalhado com todos do elenco (rs), contracenei com os talentosos Arye Campos e Geoffrey Russel, cujos personagens são outros dois agentes do BNDD (Bureau of Narcotics and Dangerous Drugs) da embaixada americana. Trabalhei também com Aksel Ustun, Raphael Kahn e Valério Moriggi, o trio de traficantes. Ainda fui privilegiado em contracenar com atores cariocas incríveis, Fábio Ventura e Billynho Blanco, que interpretam os detetives policiais do RJ, Cadu Liberati e Alexandre David, o sinistro detetive militar Batista – ressalta.
Além de “Rio Connection”, o ator esteve em duas grandes produções do cinema brasileiro contemporâneo: “Bacurau” e “Marighella”.
- Em “Marighella”, interpreto o personagem Wilson Chandler, um representante do governo dos Estados Unidos que está presente no Brasil para apoiar a ditadura e ensinar táticas de "interrogação avançada", ou seja, tortura. No caso desse personagem, comecei com minha própria formação nos EUA. Norte americanos são criados num ambiente que diretamente, e indiretamente, alimenta um senso de orgulho nacional, que comunica constantemente "nosso jeito é o melhor, ou ainda o único jeito certo
." Esse raciocínio se expande para dar uma autoridade moral ao governo, ou seja, se o governo americano se aliar com outro, este outro deve estar do lado certo das coisas também, então não importa a brutalidade das suas ações, todas estão justificadas. Wilson foi uma pessoa que poderia ser desumanamente cruel em nome do estado, e voltar para a família toda noite, considerando-se uma “pessoa de bem”. Em “Bacurau” faço Joshua, um americano que faz parte de um “safári” de caça a seres humanos num pequeno vilarejo no nordeste do Brasil.
É comentado no filme que nos EUA ele trabalha com Recursos Humanos - função que exige uma medida de inteligência interpessoal - mas em Bacurau ele tem um comportamento sem consciência, matando até crianças sem remorso. Acho ele a representação de uma tendência terrível nas sociedades americana e brasileira - uma pessoa totalmente funcional no seu próprio meio ambiente, que aceita e tem capacidade para atos de violência e brutalidade por conta de uma falta de empatia total com seres humanos de qualquer outra cultura – completa o ator.
Townes, que tem 50 anos e é natural de Nova Orleans (Estados Unidos), também pode ser visto em duas produções do streaming: no filme “Traição Entre Amigas” (Netflix) e na série “B.A. O Futuro Está Morto” (HBO Max).
- “Traição Entre Amigas” foi um trabalho que me deixou muito feliz. É uma história sobre adolescência do diretor Bruno Barreto que me lembra muito os filmes cult classics de John Hughes nos anos 80.
No filme, eu sou Jason, chefe da personagem de Larissa Manoela em Nova Iorque. Jason tem um relacionamento meio bravo e estressado com Larissa e a sua amiga (Nathalia Garcia), mas no contexto de comédia. Foi muito divertido realizar esse trabalho com elas. Já em “B.A” faço uma participação como Jack, um estrangeiro poderoso com conexões ocultas com o governo brasileiro por motivos clandestinos – adianta.
Brian começou jovem a atuar em produções comunitárias nos Estados Unidos, com 12 anos e estreou nos palcos profissionais aos 18. Já quando tinha 20 anos foi trabalhar também com TV e filmes.
- Nos EUA, trabalhei principalmente no teatro. Apresentei peças clássicas e contemporâneas em vários teatros regionais em Nova Iorque, Nova Jersey, Texas, Louisiana, Wisconsin, entre outros. Morei em Nova Iorque por 11 anos, onde trabalhava no audiovisual.
Fiz participações em programas como Gossip Girl e a novela All My Children. Também tive oportunidades de atuar internacionalmente, na novela coreana Roebisute/ The Lobbyist e no filme vietnamita Dung Dot/ Don’t Burn. Nos bastidores, trabalhei por anos como produtor no programa de comédia Saturday Night Live – completa.
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