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CRÍTICA: O ÚLTIMO AZUL

 Em um futuro próximo e nada improvável, um Brasil distorcido pela lógica do descarte decide exilar seus idosos em colônias isoladas, como se a velhice fosse um erro social a ser corrigido.



Nesse contexto de distopia quase absurda, que provoca riso e pavor na mesma medida, o filme acompanha Tereza, uma mulher de 77 anos que escolhe resistir. Sua fuga pelo coração da Amazônia não é apenas uma tentativa de adiar o inevitável, mas uma busca profundamente humana por algo simples e simbólico: um último voo, um último gesto de liberdade antes que a vida seja transformada em protocolo.


A atuação de Denise Weinberg é de uma delicadeza rara, daquelas que não precisam de grandes discursos ou cenas de impacto para comover. Ela habita Tereza com uma verdade que transparece nos silêncios, nos gestos contidos, nos olhos que carregam um mundo.




A escolha de não cair em sentimentalismos ajuda a tornar sua jornada ainda mais potente, porque exige empatia sem pedir pena. Tudo ali pulsa com uma vontade de viver que é serena e indomável ao mesmo tempo.

Visualmente, o filme se ancora na força sensorial da floresta e transforma o Amazonas em personagem. A fotografia explora o contraste entre a opressão institucional da distopia e a imensidão viva e poética dos rios, enquanto a trilha nos leva para dentro de uma experiência quase psicodélica.

A escolha de proporção de tela, mais estreita, incomoda desde o início, mas talvez esse incômodo seja proposital, como se o filme quisesse mostrar que o mundo está encolhendo para aqueles que envelhecem. Ainda assim, a falta de captação de som direto prejudica alguns momentos de diálogo, desconectando o espectador de certas cenas mais íntimas.




Há uma crítica social escancarada no uso da distopia como espelho do nosso presente. O filme cutuca a forma como tratamos os idosos como se fossem resíduos de uma engrenagem produtiva.

Ao mesmo tempo, ele mergulha no delírio, e o que começa como crítica direta se transforma, pouco a pouco, numa experiência sensorial que mistura psicodelia, realismo mágico e uma espécie de boat-movie tropical, ainda que, em alguns trechos, essa fusão afogue parte da riqueza do cenário real que se oferece ao redor.

Em um momento em que o cinema brasileiro busca novas formas de se afirmar no mundo, O Último Azul chega premiado em festivais e com um fôlego criativo admirável.

Não é um filme para todos os públicos, mas é, sem dúvida, uma obra que convida à reflexão, sobre tempo, liberdade, envelhecimento e o valor que damos a vidas que já viveram muito. E talvez, justamente por isso, seja tão necessário¨.



ELENCO PRINCIPAL

Denise Weinberg (Tereza), Rodrigo Santoro (Cadu), Miriam Socarrás (Roberta) e Adanilo (Ludemir)


DEMAIS INTEGRANTES DO ELENCO

Rosa Malagueta (Esmeraldina), Clarissa Pinheiro (Joana), Dimas Mendonça (Ivan), Daniel Ferrat (Bruno), Heitor Lóris (Daniel), Rafael Cesar (Dalson), Isabela Catão (Vanessa), Daniela Reis (Junia), Diego Bauer (Genivaldo), Aldenor Santos (Marinheiro da porta clandestina), Tony Ferreira (Arlindo), Karol Medeiros (Michely), Erismar Fernandes (Orla), Júlia Kahane (Karoline), Robson Ney (Eliseu), Luana Brandão (Natalia), Ítalo Rui (Paula), Amanda Costa (Nina), Ítalo Bruce (Pedro), Matheus Sabbá (Pastor TV), Paulo Queiroz (Felix), Wallace Abreu (Marcos), Jôce Mendes (Leila), Rhuann Gabriel (Romario), Arthur Gabriel (Jansen), Maria Alice (Cleide), Ana Oliveira (Patricia), Maurício Santtos (Crupiê), Klindson Cruz (André), Isadora Gibson (Massagista)

FICHA TÉCNICA

PRODUÇÃO: Desvia (Brasil), Cinevinay (México)

COPRODUÇÃO: Globo Filmes (Brasil), Quijote Films (Chile), Viking Film (Países Baixos)

PRODUTORES: Rachel Daisy Ellis, Sandino Saravia Vinay

COPRODUTORES: Giancarlo Nasi, Marleen Slot

DIRETOR: Gabriel Mascaro

ROTEIRISTAS: Gabriel Mascaro, Tibério Azul

CINEMATOGRAFIA: Guillermo Garza AMC

EDIÇÃO: Sebastían Sepúlveda, Omar Guzmán

MÚSICA: Memo Guerra

FINANCIAMENTO: Ancine FSA, BRDE, SUAT, Funcultura, Fundarpe, Secretaria de Cultura de Pernambuco, Banco do Brasil, EFICINE, Actinver, Focine/Foprocine, Fondo de Fomento Audiovisual, Ibermedia, Hubert Bals/ Netherlands Film Fund/ Fundo de coprodução Brasil-México

MARKETS/PITCHING: Cinemart, IFC

DISTRIBUIÇÃO: Vitrine Filmes

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