Crítica by Raphael Ritchie: ¨Animais Perigosos parte de uma premissa absurda: uma surfista presa num barco em alto-mar, à mercê de um serial killer obcecado por tubarões. Mas encontra nessa ideia extrema uma maneira de brincar com o desconforto, o medo e até com certo humor perverso.
A protagonista, Zephyr, é jogada num pesadelo que mistura claustrofobia, sadismo e uma tensão constante que vai se acumulando a cada onda, a cada olhar doentio do vilão, a cada movimento dos tubarões em volta do casco.
O barco em que ela está isolada se transforma num espaço opressor, sufocante, quase como se tivesse vontade própria.
Não tem pra onde correr, ninguém por perto, só o mar em fúria e a loucura humana ditando as regras.
É curioso como o filme transforma os tubarões, que normalmente seriam a grande ameaça, em algo quase secundário. Eles estão lá, claro, e provocam o pavor esperado. Mas o que realmente assusta é o homem que os manipula. Um vilão carismático e perturbador, que passeia entre o patético e o monstruoso com uma facilidade desconcertante.
Ele late pra um cachorro, canta Baby Shark, e no minuto seguinte comete atrocidades com um sorriso no rosto. É o tipo de antagonista que parece se divertir com o próprio espetáculo e isso faz com que a gente assista tudo com um misto de nojo, fascínio e tensão.
No meio desse caos, o roteiro ainda encontra espaço para um romance que, mesmo dentro de um ambiente tão brutal, consegue gerar conexão. Ele cumpre sua função, dá profundidade à protagonista, e cria contraste com a violência ao redor… mas também reforça uma fórmula já bastante repetida, como se certas histórias ainda não soubessem existir sem um elo amoroso forçado pelo roteiro. Ainda assim, funciona dentro da proposta, sem pesar demais.
O filme não cansa, não se alonga, tem uma duração enxuta que trabalha a favor da tensão. A sensação é de estar o tempo todo na beira do colapso, e quando termina, o alívio é quase físico, como se a gente também tivesse sobrevivido a um ataque.
Mas o que fica mesmo não é o medo do tubarão. É o incômodo de perceber que o filme se disfarça de terror aquático para escancarar a perversidade humana, mostrando que os verdadeiros monstros são os que domesticam o terror em benefício próprio, que usam o instinto dos animais como extensão da própria crueldade. E quando a gente percebe que o maior predador ali não tem nadadeiras nem dentes afiados, a água parece ainda mais gelada¨.
A obra, ao mesmo tempo que retrata os tubarões como animais implacáveis, que realmente são, traz a questão de quem é o verdadeiro assassino, algo inovador em filmes do gênero. Além de Harrison e Courtney, ANIMAIS PERIGOSOS conta com Josh Heuston e Ella Newton no elenco e produção dos mesmos responsáveis por ‘Longlegs – Vínculo Mortal’.
A estreia nos cinemas brasileiros está marcada para 18 de setembro, sob distribuição da Diamond Films, a maior distribuidora independente da América Latina.
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