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CRÍTICA: A LONGA MARCHA

CRÍTICA BY RAPHAEL RITCHIE: ¨A Longa Marcha: Caminhe ou Morra parte de uma premissa simples — cinquenta jovens andando sem parar até restar apenas um — mas consegue transformar essa simplicidade numa experiência física, tensa e perturbadora.



Aos poucos, a caminhada vira algo sufocante, quase insuportável. A câmera acompanha o ritmo dos corpos, o cansaço que vai se acumulando nos pés, nas costas, nos olhos. A dor vai se tornando parte da paisagem, como se o mundo só existisse no compasso das passadas.

O roteiro escolhe alguns desses garotos para seguir mais de perto, e é aí que as motivações aparecem. Cada um está ali por um motivo que diz muito sobre o mundo que os cerca. Não se trata apenas de vencer ou sobreviver.




Tem gente tentando honrar a família, fugir do que ficou pra trás ou simplesmente encontrar algum sentido em meio ao desespero. A caminhada revela, na verdade, uma sociedade esgotada, em que até a esperança foi transformada em espetáculo.

Com o tempo, o funcionamento dessa competição vai se revelando aos poucos. Como eles comem, bebem água, como lidam com necessidades fisiológicas, como lidam com a própria exaustão. Tudo faz parte do sistema, de uma engrenagem impiedosa que não permite pausas nem alívio. Existe uma lógica por trás da marcha, mas ela não é feita para proteger. Ela é feita para eliminar.




O filme respeita a brutalidade do material original, mas faz algumas escolhas próprias. Em vez de tentar chocar o tempo todo, prefere construir tensão com calma, nos diálogos, nos silêncios, na maneira como os laços entre os personagens vão surgindo mesmo quando sabemos que eles vão se desfazer. A amizade, ali, nasce condenada. Mas nasce mesmo assim.

E à medida que os meninos marcham, somos forçados a marchar com eles. É como assistir a um reality show extremo, onde a violência é parte do contrato e a audiência se confunde com a conivência.




A câmera se torna espelho, e a gente passa a se perguntar o que faria no lugar deles. Pararia? Resistiria? Trairia alguém pra continuar? Ou apenas aceitaria as regras impostas sem lutar contra?

É um filme que exige paciência. Ele anda no próprio tempo, assim como os pés que vão se arrastando pela estrada. Mas é justamente nessa lentidão que a dor vai se acumulando. Porque quanto mais o corpo cede, mais a gente entende que aquilo não é só uma competição cruel.

É um retrato desesperador do mundo lá fora. Um mundo em que parar significa ser eliminado. Em que seguir, mesmo sem saber pra onde, parece a única saída.

A direção é de Francis Lawrence (da franquia Jogos Vorazes) com roteiro de JT Mollner (“Desconhecidos”). Roy Lee, Steven Schneider, Francis Lawrence e Cameron MacConomy assinam a produção. A distribuição nacional é da Paris Filmes.

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