CRÍTICA BY RAPHAEL RITCHIE: ¨Três irmãs sozinhas, uma casa simples num bairro operário da Suécia e um verão que guarda, ao mesmo tempo, a promessa da liberdade e o peso de uma responsabilidade que nunca deveria ter sido delas. Laura, a mais velha, tenta segurar tudo. A rotina, a casa, o medo.
Carrega nas costas o risco de separação, as decisões que uma mãe tomaria, o silêncio que tenta proteger as irmãs do colapso iminente. E, entre uma tarefa e outra, ainda encontra espaço para brincar. Para dançar. Para manter acesa a infância onde já começa a se instalar o medo.
O filme se move nesse terreno frágil onde leveza e urgência coexistem. De um lado, o riso solto, os mergulhos no lago, as pequenas fugas do cotidiano. Do outro, a dor silenciosa da ausência, a ameaça constante da assistência social, a sombra que paira sobre cada gesto. Tudo é efêmero.
Tudo é precioso demais para não se perder. E nesse jogo entre o que ainda se pode sonhar e o que já se teve que enfrentar, a narrativa encontra seu lugar. Um coming of age delicado, cru, que não precisa de grandes reviravoltas para tocar fundo. Basta o acúmulo das pequenas rachaduras.
A câmera observa de perto, sem pressa. Confia no tempo das personagens, nas pausas, nos olhares. A luz do verão sueco envolve cada cena com uma beleza calma e inquietante, como se dissesse que nem mesmo os dias mais bonitos estão livres da tragédia. É cinema de sensibilidade europeia, onde o que não é dito pesa tanto quanto o que é.
Em alguns momentos, o roteiro escorrega. Há falas que parecem querer explicar o que o silêncio já gritava. Situações que soam artificiais dentro de uma história que justamente se sustenta na verdade emocional das coisas. O ritmo, mesmo contemplativo, por vezes se estende além do necessário. Mas isso não diminui a força do que é construído.
No centro de tudo pulsa uma solidariedade feminina que ultrapassa a relação entre irmãs. Um cuidado silencioso, uma entrega sem alarde, uma tentativa constante de proteger umas às outras mesmo quando tudo ao redor ameaça ruir.
E, mesmo sem precisar levantar a voz, o filme denuncia. Fala de desigualdade, de ausência do Estado, de como o peso do mundo recai sobre meninas que ainda nem terminaram de crescer.
O que fica é essa beleza ferida. A ternura que insiste. A infância que se agarra ao pouco que tem para não desaparecer por completo. Paraíso em Chamas revela o esforço de permanecer em pé, mesmo quando tudo desmorona ao redor. Porque às vezes é só isso que dá pra fazer: proteger o que resta enquanto o paraíso vira cinza¨.
País: Suécia, Dinamarca, Finlândia, Itália
Ano: 2023
Gênero: Drama
Duração: 108 minutos
Distribuição no Brasil: Pandora Filmes
Estreia: 25 de setembro de 2025
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