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CRÍTICA: SONHAR COM LEÕES

Crítica by Raphael Ritchie: ¨ Sonhar com Leões tem algo de absurdo, de tragicômico e de profundamente humano. Gilda, vivida por Denise Fraga, é uma imigrante brasileira em Lisboa que, ao receber um diagnóstico terminal, começa uma jornada nada convencional em busca de uma morte digna.




O que surpreende é o tom: há um sarcasmo leve, uma liberdade irônica e uma estranha doçura no modo como o filme lida com a finitude. E Denise, como de costume, conduz tudo com precisão, entre o humor seco, a urgência e uma certa ternura que emerge mesmo nos momentos mais cínicos.

A trama se desenrola como uma sátira existencial. Gilda encontra uma organização clandestina que oferece workshops para pessoas que desejam encerrar suas vidas com dignidade. Ali, junto com outros personagens também à beira do fim, ela passa a questionar não só a morte, mas também o que fazemos com o tempo que nos resta.

O vínculo com Amadeu, um companheiro de oficina, é o que sustenta boa parte do afeto do filme. A conexão entre os dois não é idealizada, ela nasce do absurdo, da dor compartilhada e da urgência de encontrar alguma beleza no meio do colapso.




O humor é estranho, quase desconfortável. Lembra a comédia do absurdo, em que as situações parecem reais demais para serem inventadas, mas absurdas demais para serem ignoradas. Gilda quebra a quarta parede em diversos momentos e fala direto com o espectador, como quem se recusa a morrer sem dizer o que pensa. E isso evoca algo muito próximo do que Denise já fazia no Retrato Falado, só que aqui em outra chave, mais amarga, mais cética, mais livre.


Esteticamente, o filme abraça esse estranhamento. A paleta é pálida, os enquadramentos são teatrais e os silêncios pesam tanto quanto as falas. Mas tudo funciona dentro da proposta de fábula moderna sobre escolha, liberdade e desconstrução do tabu da morte.

A narrativa oscila entre momentos de crítica social à medicalização da vida, ao capitalismo da morte, e reflexões mais íntimas sobre o que é realmente insuportável: morrer ou viver sem sentido?


É um filme que pode incomodar, especialmente quem espera respostas. Ele não oferece. Mas provoca. A certa altura, já nem se trata mais de morrer, mas de olhar pra vida com olhos mais limpos. E talvez essa seja a mensagem.

Quem se permite pensar na morte de forma lúcida pode acabar encontrando um novo desejo de viver¨.

O filme soma passagens por importantes festivais, como Black Nights Film Festival, na Estônia; Red Sea International Film Festival, na Arábia Saudita, e o Festival Internacional de Cinema de Guadalajara (FICG), no México. Além do próprio Festival de Cinema de Gramado, que acontece entre 13 e 23 de agosto, onde concorre ao Kikito.


“Sonhar com Leões” é uma produção da Promenade (Portugal), Darya Filmes (Portugal), Capuri (Brasil) e Cinètica (Espanha). A distribuição é da Pandora Filmes (Brasil e América Latina) e Nos Audiovisuais - TV Cine (Portugal e África).


“Estamos muito felizes com o lançamento de ‘Sonhar com Leões’ e com a recepção que o filme tem tido nos festivais por onde passou. É uma obra sensível, provocadora e cheia de humanidade — e acreditamos que ela dialoga com o público brasileiro de forma potente e necessária”, destaca Eduardo Rezende, sócio e diretor da Capuri

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