Post Page Ads

Post Page Top Ads

CRÍTICA: CYCLONE

 Crítica by  RAPHAEL RITCHIE: ¨Cyclone parte de uma história real que já nasce potente por si só. Dayse Costa era operária, escrevia peças de teatro escondida no intervalo do trabalho e venceu um concurso que a levaria para Paris.

Isso em 1919, numa época em que mulheres sequer podiam votar.




O filme tenta dar voz a essa trajetória esquecida, misturando ficção e documento, sonho e resistência.


A ambientação de São Paulo na virada dos anos 10 para os 20 tem um charme áspero. Os figurinos e locações tentam reconstruir a época com o que foi possível. Nada é luxuoso, mas tudo tem intenção.

A fotografia é eficiente, mesmo que simples, e compõe bem os espaços entre a gráfica, o teatro e as ruas. É uma São Paulo de tijolo, vapor e contradição.

Luíza Mariani dá corpo à Dayse com entrega emocional. A personagem transita entre a força de quem sonha e a frustração de quem precisa pedir permissão até para existir. A atuação às vezes parece maior que o filme, como se ela estivesse segurando algo que a narrativa ainda não consegue acompanhar por completo.



O roteiro quer muito. Fala da luta de classes, do apagamento feminino, da precariedade da arte, da esperança nos palcos, do desejo de ir embora. E talvez por isso, em alguns momentos, Cyclone se perca tentando dar conta de tudo.

A estrutura lembra mais uma minissérie condensada do que um filme com unidade dramática definida. Há cenas que funcionam muito bem isoladamente, mas que parecem soltas quando colocadas lado a lado.

Alguns diálogos soam expositivos, e a trilha força um pouco a mão, o que tira parte da imersão. Ainda assim, não apaga o valor do projeto. Existe uma urgência em contar a história de Dayse, e essa urgência transparece até nos tropeços.

Não é um filme que disfarça seus limites, mas é honesto na tentativa de registrar uma mulher que ousou criar num mundo que mal a deixava respirar.

Cyclone entrega uma memória reconstruída. E mesmo que essa reconstrução seja imperfeita, ela ainda tem valor. Porque lembrar de mulheres como Dayse é também lembrar quantas ainda são silenciadas, e quantas histórias como essa continuam sem palco até hoje¨.




FICHA TÉCNICA:
Direção: Flavia Castro
Roteiro: Rita Piffer
Produção: Luiza Mariani, Joana Mariani e Eliane Ferreira
Coprodução: Walter Salles e Maria Carlota Bruno
Fotografia: Heloísa Passos
Montagem: Joana Collier e Flavia Castro
Direção de Arte: Ana Paula Cardoso
Figurinos: Gabriela Marra
Caracterização: Mariah de Freitas
Empresas produtoras: Mar Filmes e Muiraquitã Filmes
Empresa coprodutora: VideoFilmes e Claro
Ano e países de produção: Brasil, 2025
Distribuição: Bretz Filmes

ELENCO
Luiza Mariani ............... Cyclone (Dayse Castro)
Eduardo Moscovis ............... Heitor Gamba
Karine Teles ............... Marie
Luciana Paes ............... Lia
Magali Biff ............... Ada
Ricardo Teodoro ............... Paco
Helena Albergaria ............... Tatiana
Rogério Brito ............... Rodrigues

Postar um comentário

0 Comentários