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CRÍTICA: A GAROTA CANHOTA

Crítica by Raphael Ritchie: ¨A Garota Canhota acompanha uma mãe e suas duas filhas em um recomeço delicado e improvisado. Elas se mudam para Taipé para abrir uma barraca no mercado noturno e, com isso, tentar uma nova vida.


Mas o que poderia ser só um retrato de superação vira um filme cheio de sensibilidade, que mostra a adaptação como um processo aos tropeços, aos poucos, no ritmo das descobertas e dos percalços do cotidiano.


Grande parte da força do filme vem da atuação de Nina Ye, de apenas nove anos. Ela carrega a câmera com uma naturalidade impressionante, sem nunca parecer ensaiada ou forçada. Existe uma doçura nos gestos dela, mas também uma força silenciosa. A história é, no fundo, vista pelos olhos dela, e o filme sabe disso.




A câmera muitas vezes se posiciona em sua altura, o que nos coloca diretamente no lugar dessa criança que observa o mundo dos adultos com uma mistura de curiosidade, medo e resiliência.

A ambientação urbana, com foco no mercado noturno de Taipé, ajuda a dar vida ao cenário de migração e adaptação. São muitas cores, sons e movimentos que traduzem o caos e a beleza de se recomeçar em um lugar desconhecido. O filme consegue capturar esse universo de forma sensorial, sem cair no exótico ou no turístico. Ele está interessado nos detalhes do dia a dia, nos pequenos gestos de sobrevivência, no esforço silencioso que se repete toda noite quando a barraca é montada, a comida é servida, e a esperança é renovada.

Existe também um equilíbrio delicado entre sonho e necessidade. A protagonista adulta tenta sustentar a família e manter algum tipo de esperança, mas o filme nunca romantiza a precariedade.



Ele mostra a dureza da realidade sem ser pesado, porque escolhe o ponto de vista da criança, que filtra tudo com o olhar de quem ainda está entendendo o que é o mundo. Esse olhar infantil aquece o filme e o torna mais humano, mais próximo.

Talvez alguns elementos deixem a desejar. A trilha sonora, por exemplo, pode soar um pouco intrusiva em certos momentos, tentando empurrar uma emoção que já está ali, clara, na atuação ou nas imagens. E o contexto comunitário em volta da família poderia ser mais explorado.

Existem personagens e situações que aparecem rapidamente, mas não se aprofundam. A escolha de focar no núcleo familiar é compreensível, mas o mundo ao redor poderia ganhar mais presença.

Ainda assim, o que permanece é uma sensação de acolhimento. Não porque tudo dá certo, mas porque o filme respeita o tempo, o espaço e as emoções dessas personagens. Ele nos convida a entrar nessa rotina difícil, mas cheia de pequenos afetos, e nos faz lembrar de como o afeto também pode ser uma forma de resistência¨.

Elenco
Janel Tsai
Nina Ye
Akio Chen
Blaire Chang
Hsia Teng-hung
Shi-Yuan Ma
Teng-Hui Huang
Xin-Yan Chao

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