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CRÍTICA: ÂNGELA DINIZ - ASSASSINADA E CONDENADA.

 Crítica by Raphael Ritchie: ¨Ângela Diniz: Assassinada e Condenada não se contenta em recontar um crime famoso. 





A minissérie escolhe mergulhar no que vem antes e ao redor dele, a construção social da honra, os julgamentos que começam muito antes do tribunal, os códigos de gênero que aprisionam até quando parecem proteger. Ao revisitar a trajetória de Ângela, a narrativa ilumina uma época em que ser mulher livre demais era, por si só, uma afronta. E isso já bastava para que a vítima virasse ré.

Marjorie Estiano entrega uma das atuações mais potentes de sua carreira. Há uma precisão incômoda na forma como ela interpreta os momentos íntimos, os silêncios, a raiva contida e a leveza em ambientes que a pressionam a ser menos. Ela não interpreta uma heroína, mas uma mulher possível, complexa, contraditória, magnética. A presença dela é tão intensa que os outros personagens perdem o brilho por contraste. Poucos acompanham seu ritmo.

A série equilibra com inteligência a reconstrução do crime com a leitura crítica do sistema que o permitiu. O julgamento de Doca Street, com sua primeira sentença branda e a famosa defesa da legítima defesa da honra, é mostrado como sintoma de uma sociedade que sabia exatamente de que lado estava e que precisou ser confrontada por vozes femininas organizadas para começar a mudar. 

Essa dimensão política é um dos méritos da produção, que mostra como os discursos se sustentam e como a estrutura jurídica e midiática colaborou para transformar o assassino em vítima.

Mas ao mesmo tempo há uma tensão na forma como a série escolhe contar essa história. Ao concentrar grande parte do tempo na construção da figura de Ângela como mulher independente, carismática e dona de si, a minissérie acena para uma narrativa feminista, mas evita aprofundar outros aspectos da vida dela. 

Fica a impressão de que a série quer provocar, mas sem arriscar demais, como se tivesse receio de desviar o foco do espetáculo que já se espera.

E esse é o ponto mais delicado: ao revisitar um caso tão exposto, a produção corre o risco de repetir, mesmo que de forma crítica, a mesma lógica que denuncia, a de transformar a dor em espetáculo. Quando insiste demais no julgamento, nas manchetes, nos closes de impacto, ela se aproxima do sensacionalismo que tenta combater. 

Falta tempo para respirar, para entender quem era Ângela antes de virar caso. Para mostrar como era ser uma mulher autônoma no Brasil dos anos setenta e o que isso custava.

Ainda assim, Assassinada e Condenada cumpre um papel importante. Relembra um crime emblemático com o distanciamento necessário para apontar suas camadas. Não fecha o assunto. Abre outros. E ao fazer isso, ajuda a entender por que ainda é preciso contar essa história e por que ela ainda se repete¨.

Sinopse: A série é inspirada no renomado podcast Praia dos Ossos e revisita a história de Ângela Diniz, uma mulher que, por sua liberdade e autonomia, desafiou os padrões impostos às mulheres e foi brutalmente punida por isso. Seu último relacionamento terminou em tragédia quando foi assassinada à queima-roupa com quatro tiros por seu namorado Doca Street, sob o argumento de “legítima defesa da honra”, um caso que impulsionou os movimentos feministas em todo o Brasil.

Elenco: Protagonizada por Marjorie Estiano como Ângela, Emilio Dantas como Doca Street e Antônio Fagundes como o advogado e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Evandro Lins e Silva. Também participam Thiago Lacerda, Camila Márdila e Yara de Novaes, Thelmo Fernandes, Renata Gaspar, Tóia Ferraz, Carolina Ferman, Joaquim Lopes, Emílio de Mello, Marina Provenzzano, Maria Volpe, Gustavo Wabner, Ester Jablonski, Pedro Nercessian, Deco Almeida, Stepan Nercessian, Daniela Galli, Priscila Sztejnman, Tatsu Carvalho, Charles Fricks e Alli Willow.

Créditos: Produzida pela Conspiração. Escrita por Elena Soárez, Pedro Perazzo e Thais Tavares, conta com direção geral de Andrucha Waddington e direção de segunda unidade de Rebeca Diniz. A produção está a cargo de Waddington e Renata Brandão. Pela Warner Bros. Discovery, a produção executiva é de Mariano Cesar, Anouk Aaron e Vanessa Miranda.

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