Post Page Ads

Post Page Top Ads

CRÍTICA: THE PRESIDENT´S CAKE

 Crítica by Raphael Ritchie: ¨Em um vilarejo isolado no sul do Iraque, durante o período das sanções econômicas, uma menina de nove anos chamada Lamia é escolhida para preparar um bolo em comemoração ao aniversário do presidente Saddam Hussein. 




É a partir desse momento, uma tarefa que deveria ser simbólica e até festiva se transforma num desafio de sobrevivência, onde cada ingrediente se torna uma missão, cada ausência uma ameaça, e o bolo vira símbolo de algo muito maior do que uma simples comemoração oficial.

É curioso como um filme tão pequeno pode carregar tanto. The President’s Cake começa com essa premissa e vai crescendo até virar metáfora. A escassez, o medo, a pressão por perfeição diante de um regime opressor, tudo se concentra nessa missão de confeitaria forçada, onde cada ovo e cada pitada de farinha carregam o peso de uma vida sob vigilância.

A escolha de colocar Lamia, uma criança, no centro de tudo é o que dá ao filme sua potência emocional. A ingenuidade dela não serve para suavizar a história, pelo contrário. É justamente por ser criança que tudo parece mais brutal. O espectador se agarra à esperança dela porque não há outra saída possível. E o diretor sabe disso, joga com essa tensão o tempo todo, entre o lúdico e o cruel, entre o afeto e o medo.

Os marais do sul do Iraque viram um cenário de isolamento absoluto. A paisagem alagada, vazia, suspensa no tempo, funciona quase como um personagem mudo que observa tudo de longe. É um ambiente de suspensão e espera, onde qualquer gesto de humanidade parece quase um ato revolucionário. A direção respeita esse espaço e essa gente, usando planos abertos, pouca movimentação de câmera, quase como se o filme estivesse apenas observando, nunca invadindo.

Tem algo de fábula, sim, na forma como a história é contada. Mas uma fábula sem moral fácil. O humor é contido, quase imperceptível, surgindo nas frestas entre o desespero e o absurdo. Lamia é esperta, sensível, determinada, e isso dá ritmo à jornada. Mas o mundo não a protege, e o filme nunca finge que protege. A beleza está em ver como ela tenta resistir mesmo assim.

A montagem poderia ser mais enxuta. Há um momento em que a narrativa parece já ter dito tudo, mas insiste em continuar um pouco além. Ainda assim, o impacto do final compensa. A última imagem é seca, dura, talvez até cínica, e reverbera quando a tela escurece. Não é só sobre o bolo. Nunca foi. É sobre o que se espera de cada cidadão quando o Estado se torna um buraco negro de exigências e controle¨.

Postar um comentário

0 Comentários